terça-feira, 4 de junho de 2013

O tempo

O tempo vem plácido e constante, sempre mantendo o seu passo nem lento nem rápido, nem mais nem menos, nem muito nem pouco. Apenas tempo. As velhas gavetas se enchem de poeira, e já não se abrem mais, e se abrem já não revelam conteúdo, já não há mais por que, já não há como. O tempo roubou a imagem de outras vidas, o tempo varreu o resíduo da moagem das horas sobre o velho mundo que jaz em paz, não esquecido, mas não mais desejado. O tempo veio a mando d’Ele, e trouxe outras razões a quais se preocupar, outros motivos pra se morrer aos poucos e outras vontades de se viver aos muitos. E agora não quero voltar para escapar, e não me sentiria assim de qualquer forma. Agora quero escapar de outros medos infantis. As minhas páginas em branco estão escritas sem tinta que é pra não deixar vestígio do que não se quer revelar, mas estão escritas em baixo relevo que é pra se possa ler de alguma forma o que foi escrito pra durar. As lágrimas já se secaram, e a demanda extrema de energia que é viver não permite intensidade em tudo que se faz, há de se escolher por quais causas lutar, há de se escolher de quais vitórias se gabar, há de se escolher em quais elogios acreditar. O tempo não mudou o mundo, mas a perspectiva mudou de posição, e agora tudo é superável e passageiro, agora já não faz diferença querer ser a diferença quando a diferença reside no ato de querer. E escorre pelas as minhas mãos o poder, o orgulho, a censura, o horror,  por que não me pertencem os meus pulmões, não me pertencem minhas emoções, não me pertencem minhas convicções, eu sou tempo, eu sou nada, eu morrerei e voltarei ao útero do meu Primeiro Amor.

segunda-feira, 27 de maio de 2013

A salvo

Quando eu olho pra você, eu penso que seus olhos são realmente verdes... mas agora eu sei, verde não é a cor da esperança, e sim o vermelho. Quando eu penso em você, eu me lembro daquele sorriso de canto de boca, aquelas mão confiantes, e seu jeito ridiculamente descolado de andar como se conhecesse o mundo... você conhece bem o mundo, mas não o bastante pra odiá-lo ainda, então tem muito a entender... eu queria salvar você, se tivesse um último desejo seria esse. Por que a despeito de tudo, eu quero os seus olhos verdes em segurança e acreditando no vermelho com toda a sua alma, pra que você conheça a paz. Eu não quero te cuidar, mas eu quero que alguém te cuide, se deixe cuidar então... não pra que você se sinta feliz (porque tenho certeza que você já é), mas pra que você fique bem, por que eu te digo, as coisas vão piorar, elas sempre pioram, é a tendência natural de se estar mortalmente vivo... Você vai viver muito ainda meu bem, tenho essa certeza que carrego comigo, você chega aos 90 rindo da minha falta de saúde; só que meu bem, você vai viver ainda mais, use os seus 90 pra comprar uma passagem pra eternidade, eu não quero te ver lá, mas eu quero que você esteja lá... Eu confio no seu bom coração, não me interessa quem você é agora, eu confio no seu bom coração, mas não no seu bom julgamento, e eu te entendo... entendo a sua raiva, entendo sua urgência, entendo seu desejo, e entendo seu amor, eu te entendo tanto que sua dor é quase a minha, mas isso quando eu acreditava no verde... hoje não mais. Hoje dói sem arder, hoje não há drama, hoje eu te vejo e me lembro que te chamei de amor, mas hoje não, não quero seu amor, quero você em segurança, mas não tenho coragem de te salvar com as palavras... Você provavelmente arremessaria todas na minha cara até eu ficar perfurada de pérolas, você provavelmente me odeia, ou me despreza , ou simplesmente me ignora, e eu não ligo a mínima para o que você pensa sobre mim, eu só quero você a salvo.

sexta-feira, 17 de maio de 2013

Tristeza Bonita


Tem dias que é assim, a alma tá vestindo as roupas de infância, e tá chovendo fininho dentro da gente, daquelas chuvas que não te assusta mas te faz pensar.  E cada piscadela é uma cena diferente,  é o que foi agora pouco ou lá de outro mundo.  A chuva escorrendo na pedra daquela montanha cheia de matinho, e eu só pensava que um dia eu ia morar na montanha, por que era o lugar mais triste do mundo, e a tristeza é muito bonita. E quem pode resistir há uma beleza que não existe na cabeça de mais ninguém? Quem é que resiste aquilo que só faz sentido pra si mesmo? Eu queria a montanha, eu subi a montanha, e a montanha me matou.  Não pense que a montanha foi cruel, ela nunca foi, ela me matou de profundidade, ela conquistou os pedaços aos poucos, ela me seduziu a pedir para morrer, morrer de tristeza. Tristeza bonita.  E agora você não me entende, por que você ama o mar em dia de sol, você ama o que te convida a viver com um sorriso na cara, você ama a vulgaridade da felicidade que você entende, por que é o que há pra se entender. Porque quando eu penso em alguém, eu penso em ninguém... mas quando eu penso em um lugar, eu penso na montanha. Bem do vidro da minha janela, com gotículas de chuva, de segunda a sexta, às 6:30 e às 12:45, com seu pasto verdinho, e os cavalinhos passeando no sopé, o frio de maio, e a água pela pedra incrustada em toda a sua lateral esquerda.  Que dia de sol pode roubar o lugar da minha montanha de céu nublado? Por que o céu azul e o mar azul é uma beleza corriqueira, mas a montanha é a judia do nariz esquisito, cheia de defeitos interessantes. Ela é triste, e sua tristeza é bonita.

sexta-feira, 10 de maio de 2013


O Objeto e a Luz

Hoje veio outra vez aquela sombra, eu a vejo se esgueirando pelas esquinas , pelas pilastras, atrás das portas... elas sorri debochadamente de mim como se eu a pertencesse, como pra dizer que meu tempo está se esgotando..
Por dias, ou semanas, ou poderiam ser só horas? Ela tem fome do que eu carrego por dentro, eu sinto a sua presença gélida, quieta, paciente... cínica.
Um dia alguém me disse: “velhos hábitos não te deixam ir...” e eu fujo, esse mal hábito rotineiro... fujo da sombra... corro pra longe.
Me enterro em um livro que me enclausure e sorva em longos tragos o meu ar, e por 600 páginas sou toda tinta e papel, toda cores e capas, toda viagens pra lá do real... empresto meu coração aos personagens e o sangue que corre em minhas veias é deles também... mas a página 599 chega, e eu por não querer quebrar a magia nunca chego a 600...
A sombra me questiona: o que vem a seguir? Você não pode se esconder pra sempre...
então eu me afogo em melodias das músicas que nino com tanto zelo, que carregam um histórico tão forte que não me permite ouvir o que a sombra diz... Exatamente como uma queda d’água, as gotas das notas se arrastam pelo meu corpo, a pancada da água é forte e é uma sensação tão boa que doa assim! e quando sob tal peso levanto a cabeça,  entra água por todos os cantos e eu só penso em respirar, é tão simples, só respirar...  mas a cachoeira um dia seca....
É irônico pensar que a sombra nada tem a ver com escuridão, na verdade a sombra vem da luz... A luz incidida sobre um objeto provoca sombra e tudo é sobre seu ângulo de inclinação, a distância, a fonte luminosa...
Minha inteligência me diz que enquanto eu não descobrir qual objeto foi exposto à essa luz perturbadora,  eu jamais saberei do que se trata essa sombra...  mas aí, eu simplesmente fujo outra vez...

segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

Carta ao amigo


  Querido amigo, parafraseando pequeno príncipe te digo que quando eu te conheci você era só alguém e eu resolvi te fazer alguém importante pra mim.
  Vi em você qualidades tantas, e pontencial pra dissolver a solidão... Vi que poderias me subtrair longas tardes de tédio com aguçadas conversas sobre a vastidão de idéias que borbulham em nossas mentes jovens... Vi que poderíamos compartilhar nossas preferências musicais espertas a despeito do que fede... e sempre concordamos nisso... Vi que à  dureza de nossas teorias nasceria um novo mundo governado por ferro e aço, eu que gosto da utilidade do aço e você que não se curva sem se quebrar como o ferro...
  Amigo, fui calculista ao te escolher pois não sei analisar as possibilidades despida de frieza... e o que era decisão, por um acaso, virou amizade...
  Mas amigo, eu esqueci de me certificar se há calor na sua voz quando me consola, se há conforto em seus braços quando me abraçam, e se eu posso deitar no seu colo pra fazer jorrar a dor vez por outra... eu me esqueci amigo, que sou gente, e como gente eu também preciso...
  Então amigo, que agora eu amo, eu te peço pra não me falar verdades quando eu preciso de um olhar de condescendência ... pra não se calar por respeito quando eu preciso de um sermão... pra não se esquecer de mim quando eu preciso que você se lembre... Amigo, o que eu quero ás vezes é só que você releve, me olhe placidamente malgrado minha obscena inocência e sinta afeição por tanta ingenuidade... o que eu quero amigo é que você me regue e me cultive como um dia eu fiz com você, por que hoje eu não mais preciso de sua inteligência e seu senso crítico pra aparar minhas arestas ... Como gente ,amigo, eu aprendi a precisar só de você.

segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

Sobre guerra e paz...

Oi todo mundo! bom essa é minha terceira tentativa de iniciar um blog, vamo ver no que dá rsrs... Sobre guerra e paz, acho que não poderia haver título melhor pra descrever o que acontecerá nesse blog, espero postar minhas fotos e textos e que vocês aproveitem. Bom, pra começar o ano escolhi esse:

Vida XXI

  Numa era de horror, essa contemporaneidade grotesca, o mundo pulsa em reclame aos gritos individualistas. Os desejos ardem, as vontades prevalecem, o contraste é cultuado, a crueza e nudez das palavras escrachadas, o desconforto, o descontrole, a perdição, o hedonismo, a sátira ácida, o humor negro, a sombriedade, o obscuro, o absurdo, a patologia crônica, a paranormalidade, a pscicomania, o desespero, o desemparo, a solidão, o cativeiro, o suicídio, a vida XXI (a morte XXI).
  Quero parar o turbilhão e respirar, quero mais minutos pra pensar. Não quero ser blasé ou clichê, que isso mora na vida XXI, mas quero conseguir... viver. Quero tristezas leves e alegrias serenas, basta do escroto! Quero uma boa música para ouvir que não me hipnotize, por que quero compor também. Quero ler sem decorar, simplesmente apreciar a leitura, discorrer por suas letras calma e deliciosamente como um prato de sopa quentinha numa noite gelada. Quero manter o controle em situações críticas pra que tudo se encaixe, sem sorrisos demais, sem choro demais, sem dar demais o que já não existe. Quero aprender os cálculos mais complicados e saborear a vitória da obstinação, e saber que eu consigo. Quero ser boa amiga, apenas boa, nada de melhor, nada de extremos, apenas figurante, e quero amigos leais, mas chega de viscerais, quero cooperação, não disparidade. Quero amor, não paixão, não quero excessos, não quero provas, não quero brigas, não quero esse tipo perigoso de profundidade, não quero me importar muito, não quero obsessividade  possessividade, virilidade... Quero muitas noites de sono, e muitas tardes com amigos, quero risadas verdadeiras, mas quero risadas quietas. Quero silêncio pra sentir a terra girar, as nuvens viajarem, o sol morrer lá na linha do horizonte e nascer aqui bem perto. Chega de cacos! quero plenitude, quero integridade, quero me compor de "eus" não venenosos, nada letal, nada escandaloso. Quero fazer parte de algo por completo, não pretendo ser amada, quero apenas ser agradável. Não quero me destacar, nem positivamente, apenas quero ser só mais uma. Quero racionalismo, mas não quero frieza. Quero compaixão e compreensão, mas não daquelas arrebatadoramente ideais, só quero menos egoísmo. Quero homogeneização, tudo pode ser diferente de uma forma igual. Não quero burburinhos, não quero decadência, não quero português errado, não quero ameaças, espoliação, escoriação, não quero soluços, não quero agudez de sentimentos, não quero genialidade, não quero premeditação, não quero estupidez nem grosseria. Quero poder usar as palavras e não ser discriminada por isso, afinal elas existem para serem ditas e escritas. Quero cumplicidade, respeito, companheirismo, mãos dadas no parque, sorvete de creme, chá mate, mensagens de texto, férias, programas realmente bons de humor, abraço, caneta de ponta grossa, professor desajeitado e despreocupado.
  Evoco o Locus Amenus da nova vida XXI, a simplicidade, o bom senso, a calmaria, a paz, a amenidade, o viver largado mas nos trilhos. Afinal, a vida precisa de um descanso!