terça-feira, 4 de junho de 2013

O tempo

O tempo vem plácido e constante, sempre mantendo o seu passo nem lento nem rápido, nem mais nem menos, nem muito nem pouco. Apenas tempo. As velhas gavetas se enchem de poeira, e já não se abrem mais, e se abrem já não revelam conteúdo, já não há mais por que, já não há como. O tempo roubou a imagem de outras vidas, o tempo varreu o resíduo da moagem das horas sobre o velho mundo que jaz em paz, não esquecido, mas não mais desejado. O tempo veio a mando d’Ele, e trouxe outras razões a quais se preocupar, outros motivos pra se morrer aos poucos e outras vontades de se viver aos muitos. E agora não quero voltar para escapar, e não me sentiria assim de qualquer forma. Agora quero escapar de outros medos infantis. As minhas páginas em branco estão escritas sem tinta que é pra não deixar vestígio do que não se quer revelar, mas estão escritas em baixo relevo que é pra se possa ler de alguma forma o que foi escrito pra durar. As lágrimas já se secaram, e a demanda extrema de energia que é viver não permite intensidade em tudo que se faz, há de se escolher por quais causas lutar, há de se escolher de quais vitórias se gabar, há de se escolher em quais elogios acreditar. O tempo não mudou o mundo, mas a perspectiva mudou de posição, e agora tudo é superável e passageiro, agora já não faz diferença querer ser a diferença quando a diferença reside no ato de querer. E escorre pelas as minhas mãos o poder, o orgulho, a censura, o horror,  por que não me pertencem os meus pulmões, não me pertencem minhas emoções, não me pertencem minhas convicções, eu sou tempo, eu sou nada, eu morrerei e voltarei ao útero do meu Primeiro Amor.

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