sexta-feira, 10 de maio de 2013


O Objeto e a Luz

Hoje veio outra vez aquela sombra, eu a vejo se esgueirando pelas esquinas , pelas pilastras, atrás das portas... elas sorri debochadamente de mim como se eu a pertencesse, como pra dizer que meu tempo está se esgotando..
Por dias, ou semanas, ou poderiam ser só horas? Ela tem fome do que eu carrego por dentro, eu sinto a sua presença gélida, quieta, paciente... cínica.
Um dia alguém me disse: “velhos hábitos não te deixam ir...” e eu fujo, esse mal hábito rotineiro... fujo da sombra... corro pra longe.
Me enterro em um livro que me enclausure e sorva em longos tragos o meu ar, e por 600 páginas sou toda tinta e papel, toda cores e capas, toda viagens pra lá do real... empresto meu coração aos personagens e o sangue que corre em minhas veias é deles também... mas a página 599 chega, e eu por não querer quebrar a magia nunca chego a 600...
A sombra me questiona: o que vem a seguir? Você não pode se esconder pra sempre...
então eu me afogo em melodias das músicas que nino com tanto zelo, que carregam um histórico tão forte que não me permite ouvir o que a sombra diz... Exatamente como uma queda d’água, as gotas das notas se arrastam pelo meu corpo, a pancada da água é forte e é uma sensação tão boa que doa assim! e quando sob tal peso levanto a cabeça,  entra água por todos os cantos e eu só penso em respirar, é tão simples, só respirar...  mas a cachoeira um dia seca....
É irônico pensar que a sombra nada tem a ver com escuridão, na verdade a sombra vem da luz... A luz incidida sobre um objeto provoca sombra e tudo é sobre seu ângulo de inclinação, a distância, a fonte luminosa...
Minha inteligência me diz que enquanto eu não descobrir qual objeto foi exposto à essa luz perturbadora,  eu jamais saberei do que se trata essa sombra...  mas aí, eu simplesmente fujo outra vez...

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